segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Empreendedores ou Advogados do Diabo

Concordo com as linhas gerais aqui transmitidas pelo Miguel sobre a incapacidade dos Portugueses de acreditarem, investirem e arriscarem nas suas ideias (falta de ideias acho que não é um problema dos Portugueses...). E também acho que os principais responsáveis por este estado de coisas somos TODOS NÓS (eu incluído)...
Todas as semanas na minha aula de empreendedorismo, um convidado na casa dos 30 anos explica como trocou o seu bem remunerado emprego na Delloitte, McKinsey ou Goldman pelo sonho de criar uma seguradora para animais, uma revista para mulheres executivas ou um snack de fruta seca de receita israelita... É apaixonante como aquilo faz sentido na boca dessas pessoas e para 99% dos Portugueses não seria uma ideia antes uma idiotice!
Nos primeiros dias em Nova Iorque, um grande amigo, Sanne, veio-me contar a sua ideia de criar uma loja de gravatas online (chamada Thai Ties)... Na altura era apenas um conceito mas eu não consegui evitar o papel de “Advogado do Diabo” e tentar “destruir” a ideia dele em apenas 10 minutos... Depois quando me apercebi que o tinha conseguido voltei com aquele comentário também típico: “...É pá mas tirando isso, a ideia parece-me bem porreira...” (este também é um clássico Português)! O meu amigo Sanne deu-me na altura uma grande lição de empreendedorismo: “Porque é que tu em vez de destruires a minha ideia não procures construí-la comigo? Como é evidente ela não está perfeita e por isso me apeteceu bater bolas contigo... Se fosse para a destruir fá-lo-ia sozinho sem precisar da tua ajuda...”. Só a título de curiosidade o site já está online e ele está neste momento com 3 investidores em carteira!
Eu considero-me um dos grandes problemas do Empreendedorismo em Português e considero a esmagadora maioria dos meus amigos como grandes problemas do Empreendedorismo em Português (todos querem ser médicos, banqueiros ou idealmente funcionários de Câmara Municipal) tal como considero o Governo um grande inimigo do Empreendedorismo em Português!
Dou voltas à minha cabeça e não encontro forma de dar-mos a volta a isto... Tenho apenas algumas ideias:



  1. Educação – Não faz sentido que Portugal seja um País “pobre” onde toda a gente pode andar a estudar os anos que quiser (quase) “à borla” e ainda por cima ser dos poucos onde os estudantes não trabalham! A cultura dos part-times para estudantes cria um contexto favorável a que estes se juntem para criar empresas (vê-se imenso nos EUA) ou pelo menos criam uma pool de mão de obra qualificada e flexível. Esta fonte de recursos é fundamental para o sucesso de algumas novas empresas (por exemplo hotelaria, restaurantes, lojas, etc). Um exemplo na primeira pessoa: quando estudei na Holanda trabalhei um dia por semana num supermercado porque toda a gente trabalhava pelo menos um dia... Nem comentei com as pessoas em Portugal porque se o fizesse diriam que a minha família passava por dificuldades (justiça seja feita esta situação é mais visível em Coimbra que noutras cidades dos País).

  2. Lei Laboral – A criação de empresas de sucesso implica sempre a criação de empresas mal sucedidas... É estatístico e não há nada a fazer! Infelizmente, em Portugal, se eu criar uma empresa que falha e a fechar corro sérios riscos de ter à perna durante pelo menos 10 anos (o tempo que o Tribunal demorará para tomar uma decisão) todos os meus ex-funcionários altamente protegidos pela nossa lei... Ao não agilizar esta situação, o Estado contribui para a crescente precarização do Mercado de Trabalho (99% das Empresas criadas em Portugal recorrem a esquemas paralelos de emprego).

  3. Mentalidades – Combater a máxima “tipo que criou uma empresa e enriqueceu é um explorador e o tipo que faliu uma empresa é um vigarista...”! Um dos meus colegas Columbia teve a seguinte frase de apresentação no primeiro dia de aulas “Durante os últimos 6 anos criei 3 empresas que infelizmente não funcionaram... Estava sem ideias e por isso vim estudar!”... Digam-me lá se isto faria sentido em Portugal?

Este é para mim o principal desafio de Portugal para os próximos anos... Não é um desafio do Governo é um desafio de todos nós! Chega de Advogados do Diabo...

 
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