sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Correr a Maratona de NY

Parece que ja lá vai uma semana mas alguém que diga isso às minhas pernas... No passado Domingo tive o privilégio de acompanhar 40,000 pessoas à partida da maratona de NY e, mais marcante, chegar com 38,000 à meta... Para trás 42 Km de sensacões fortes, algum sofrimento (também faz parte) e um sentimento de conquista colectiva único que vou tentar descrever com palavras.
É a maior maratona do Mundo e isso é bem visível à partida... A logística é um inferno ainda para mais porque comeca em Staten Island forcando um grande número de atletas a viajar para a partida de ferry! No ferry e nos autocarros toda a gente está tensa mas os sorrisos são fáceis... Há gente de todo o Mundo, a correr pelas mais diferentes causas (desde a paz na Palestina e Sudão, à água em África)... Este é o grande dia!
Às dez da manhã a partida... Excitacão geral e lá se dão os primeiros passos... Ao meu lado gente dos 16 aos 86 (literalmente) vai contando histórias enquanto cruza a primeira ponte do percurso que liga Staten Island a Brooklyn... Chegados a Brooklyn comeca todo o espectáculo do lado da assistência... Mais de dois milhões (!!!) de pessoas aplaudiram os maratonistas ao longo do percurso... Com fruta, água, esponjas húmidas, alimentos líquidos e com uma voz cheia de energia vão gritando um a um os nomes de cada “atleta” (escrito no dorsal)... “Looking Good, José... Looking Good” são as palavras que mais ouco. Lá vou soltando sorrisos e esquecendo as pernas... Pelo caminho, dezenas de bandas (rock, jazz, blues) em palcos improvisados vão dando música à festa.
Aos 30 Km entramos no Bronx... A recepcão ficou a cargo de um coro Gospel de 90 vozes (!!!)... Aqui fui eu a bater palmas... Incrível! Mas o mais marcante foi ver pessoas que aparentavam poucas posses (a zona do Bronx tem enormes problemas sociais) juntarem-se à festa e oferecerem fruta, água, guardanapos para ajudarem mais de 38,000 a chegar à meta... Houve gente a tentar desistir e o público não deixava... Gritavam, cantavam (às vezes em rap) o nome do corredor incessantemente até ele voltar! E é mesmo assim... Os últimos 10 Km correm-se com a cabeca porque o corpo já não dá mais.
Finalmente em Manhattan para os últimos kms, o público enche a 5ª Avenida de ambos os lados... Nunca me tinha parecido que a 5ª Avenida subisse tanto mas acreditem que sobe... Lá fui comendo e bebendo o mais que pude, esquecendo os pés e fixando os olhos na cara das pessoas que iam gritando os nossos nomes! Chegado ao Central Park, já nos últimos 5 km, tinha seis amigos à minha espera (uns optimistas... Nunca lhes prometi chegar ali)... Como foi bom ve-los... Abracei-os um a um, tirei fotos e lá ganhei o último folego para cortar a meta... No final, entre desmaios, lágrimas e sorrisos, toda a gente se abracava e felicitava pelo feito... Uma sensacão de conquista unia todos os que ali chegaram!
Já de medalha ao peito não conseguia deixar de pensar em como tudo aquilo era estranho: porque é que eu tinha corrido 42 km (um absurdo para vocês e para mim, acreditem), porque é que 38,000 pessoas fizeram o mesmo, e porque é que dois milhões se deram ao trabalho de nos aplaudir... Foi das demonstracões de forca colectiva mais marcantes que vivi e, apesar de não compreender, senti um orgulho enorme ao cortar a meta.
Dois destaques finais: o grupo de 18 portugueses com que me cruzei à partida que viajara desde Lisboa para correr, e as cinco bandeiras portuguesas que encontrei no caminho... Arrepiante!
 
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