quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A 80 Km/h...

Esta manhã passava os olhos pelos diários Portugueses e deparo-me com a notícia “José Sócrates: Economia pode crescer este ano a um ritmo superior ao previsto pelo Governo”... Mais à frente, José Sócrates vai mais longe quando se refere aos números "confirma a robustez do crescimento e a sustentabilidade do crescimento económico e significa também uma melhoria dos indicadores do primeiro semestre" e ainda "os números são muito positivos (...) Aproxima muito o crescimento dos 2,0%, o que já não se via desde 2001. (...) É possível chegar a um crescimento económico de 2,0% no final do ano, a nossa meta era de 1,8%, acho que estamos acima disso".

Eu entendo a necessidade de injectar optimismo na Sociedade mas esta euforia é, do meu ponto de vista, exagerada... Senão vejamos:

  • O crescimento económico da Zona Euro acelerou no terceiro trimestre: o Produto Interno Bruto da Zona Euro cresceu 2,6% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2006, enquanto na União Europeia o avanço foi de 2,9%; ou seja os nossos parceiros europeus cresceram a 1.5 vezes a nossa velocidade (a diferença é que Portugal vai a 80Km/h e a Europa a 120Km/h).

  • Um dos motivos do regozijo de Sócrates é o aumento das exportações... Na cabeça dos Portugueses fica a imagem de que somos muito competitivos e que vendemos cada vez mais lá para fora. Estou de acordo que é um indicador positivo mas atentemos no seguinte: a quota de exportações que está a crescer é a que corresponde aos nossos parceiros da UE; uma vez que estes estão a crescer mais rápido que nós têm mais poder de compra e acabam por consumir mais e importar mais. No próximo ano, por exemplo, está prevista uma desaceleração na zona euro que imediatamente impactará negativamente as nossas exportações. Só mais um exemplo de como a evolução das exportações deve ser colocada em contexto: os EUA estão a atravessar uma crise que deprime o crescimento mas que curiosamente conduz a um aumento significativo das exportações (neste caso devido à desvalorização do dolar).

  • As boas notícias a meu ver estão do lado do consumo público: redução em 0,1% o que significa que a Economia está a crescer e o Estado está timidamente a reduzir o seu consumo. O problema é a timidez deste emagrecimento... E este é um dos indicadores que melhor reflecte a capacidade de fazer reformas estruturais, que reflecte a força do Governo. Curiosamente após 2006 e 2007 com decréscimos, 2008 reserva-nos novamente um aumento na despesa pública (estimado em 0,3%).

Em suma, todos gostamos de celebrar e todos torcemos pelo sucesso do nosso País mas a verdade é que bem podemos agradecer uma boa quota parte do nosso crescimento aos nossos parceiros europeus cujo seu crescimento lhes permite aumentar o consumo. A nível interno continuamos a evitar reformas que optimizem a despesa com Saúde, Educação, Segurança e outros Serviços...

 
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