sábado, 3 de novembro de 2007

A propósito de líderes na América do Sul...

Estava a ler o último post do Ricardo e lembrei-me de um encontro que tive no passado mes de Julho com Geraldo Alckmin, candidato derrotado nas eleicoes presidenciais brasileiras de 2006. Saí deste encontro profundamente decepcionado por constatar que um candidato que acabava de obter um resultado surpreendente nas eleicoes (perdeu é certo, mas obteve 45% dos votos contra todas as sondagens), que tinha sido Governador do Estado de Sao Paulo durante uma série de anos e que está politicamente conotado com a ala neoliberal do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) nao me transmitiu uma única ideia para País, nem política, nem económica nem social... Nada.

Durante a conversa Geraldo Alckmin referiu tres eixos de actuacao: Sistema Político, Sistema Fiscal e Educacao.

A nível político duas ideias fortes: ciclos uninominais e disciplina partidária de voto obrigatória por lei (!). Os ciclos uninominais tem vantagens e desvantagens. A vantagem óbvia é que aproxima os eleitores dos eleitos. A desvantagem consequente é que tem tendencia para pulverizar a disciplina partidária quando interesses locais (e nao forcosamente os "interesses" dos cidadaos locais) estao em jogo. Nao só isto afecta a estabilidade do sistema democratico como tende a evidenciar o interesse local sobre o interesse comum. Percebe-se a preocupacao de Alckmin perante escandalos como o famoso “Mensalao” (em que nada nem ninguém foi devidamente responsabilizado) e percebe-se a necessidade de fomentar a disciplina partidária. Mas forcá-la por lei? Para além dos contornos pouco democráticos de uma iniciativa desse tipo eu diria que anula quase totalmente as virtudes da outra ideia fundamental de Alckmin: os ciclos uninominais.

A nível fiscal uma ideia forte: baixar os impostos, principalmente os que incidem sobre o consumo. Os impostos ao consumo sao uma forma de garantir receitas fiscais mesmo quando a Máquina Fiscal nao funciona, como no caso do Brasil (impostos sobre combustíveis, tabaco ou o IVA). Reduzir a carga fiscal só faz sentido se se acreditar num de dois cenários (assumindo que a Maquina Fiscal nao melhora o seu desempenho): o Estado vai gastar menos; ou a Economia vai acelerar pelo que a taxa desce mas a base de tributacao aumenta (no fundo a ideia por detrás do choque fiscal apregoado por Durao Barroso). Ora Geraldo Alckmin nao mostrou qualquer ideia/intencao para reduzir a despesa de Estado inclusivamente destacou a necessidade de investir mais em Educacao, Saude e Infraestruturas e também nao revelou qualquer estimativa de aceleracao da Economia...

Em termos de Educacao referiu a necessidade e o compromisso de criar Estabelecimentos de Ensino Pré-Escolar e melhorar o Ensino Básico. Quando questionado sobre as formas de promover a universalidade do Ensino foi vago... Muito vago. Aproveitou para criticar a “Bolsa Família”, criada por FHC mas implementada por Lula, que basicamente garante uma mensalidade as famílias mais desfavorecidas caso as criancas vao a escola, mas nao acrescentou uma única ideia... Nada!

E para mim o problema do Brasil é exactamente a falta generalizada de Educacao que promove enormes desigualdades e que beneficia uma ínfima percentagem da populacao a custa da esmagadora maioria que vive na miséria e separada do Mundo dos ricos por muralhas, arame farpado e carros blindados.

Os séculos passaram e pouco mudou: o Brasil continua a saque!

P.S.: Ricardo, boa sorte pela ‘Europa” da América do Sul
P.S.2: Os acentos comecam timidamente a aparecer... Hoje aprendi o acento agudo! As minhas desculpas pelos acentos e cedilhas que faltam
 
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