quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mas afinal que historia e essa do subprime?

Felizmente a palavra desculpa nao tem acentos pelo que a posso usar para me desculpar pelo facto de nao usar acentos… As palavras do Ricardo e do Miguel nao mereciam tal companhia mas assim se vive pela Grande Maca: sem cedilhas nem acentos...

Ontem o Fed, equivalente ao nosso Banco de Portugal, baixou a taxa de juro para 4.5%...
Apesar dos resultados relativos ao crescimento e desemprego serem animadores, o Fed esta preocupado com a embrulhada que se criou no mercado subprime! O mercado subprime e basicamente o mercado dos emprestimos a habitacao concedidos a pessoas que nao preenchem os requisitos normais para acederem a esse credito. No passado, os bancos dificilmente emprestavam dinheiro a estas pessoas porque isso implicava um risco que eles nao estavam dispostos a correr. Ate que um dia, um banco americano decidiu pegar numa serie de emprestimos junta-los todos, “corta-los” as fatias e vende-los a investidores. Estes, a troco de um pagamento inicial ao banco, passavam a receber juros mensalmente durante um periodo que poderia ir ate dez anos ao fim dos quais recebiam o dinheiro que tinham investido. A condicao necessaria era que o titular do emprestimo, o tal individuo de poucas posses, continuasse a pagar ao banco as prestacoes do emprestimo.

Este sistema trazia enormes vantagens aos bancos que, em vez de suportarem sozinhos os riscos de insolvencia dos seus clientes, partilham e dispersam risco entre os investidores. O problema e que ninguem no seu perfeito juizo acha muito atractivo comprar um pedaco de um grupo de emprestimos a potenciais caloteiros... O desafio que se colocava era agora dar um aspecto simpatico a esta amalgama! Criativo e arrojado como e seu timbre, o sistema financeiro encontrou a solucao: juntar um conjunto grande de emprestimos e corta-lo de tal forma que os investidores podiam comprar pedacos de alto risco, em que basicamente deixavam de receber mal alguem nesse conjunto de emprestimos deixasse de pagar, e pedacos de muito baixo risco em que o investidor sabia que so seria afectado se (quase) toda a gente naquele grupo de emprestimos deixasse de pagar... Parece complicado mas nao e... O resultado final e um conjunto de emprestimos a potenciais insolventes cuja responsabilidade o banco “vende”, com a conivencia das agencias de rating (Standard & Poors, Moody’s), com aspecto de accoes da edp ou da REN (as vezes inclusivamente melhor).

Uma vez descoberto este fascinante produto os bancos deixaram de se preocupar com o que emprestavam a quem. Toda a gente passou a ter acesso ao credito porque os bancos de seguida transferiam o risco para investidores em todo o Mundo. Dai as situacoes caricatas que recentemente lemos sobre bancos alemaes, franceses, portugueses a sofrerem as consequencias das prestacoes nao pagas pelo Sr. John Smith, residente no Connecticut.

Ora chegou-se a um ponto em que alguns proprietarios deixaram de conseguir pagar as prestacoes... Em consequencia comecaram a vender as casas resultando na queda dos precos. Com os precos a cair os bancos comecaram a limitar as renegociacoes de credito contra o valor da casa porque o valor da casa estava a decrescer. Em simultaneo as pessoas comecaram a achar que nao faria sentido para ‘x’ por uma casa que agora vale ‘x-y’! Este efeito de bola de neve leva a que os precos das casas descam abruptamente e que uma grande quantidade dos emprestimos que estavam naquele grupo inicial fiquem insolventes. Resultado: aqueles pedacos que ainda ha pouco pareciam fantasticos investimentos convertem-se numa mao cheia de nada e os investidores ficam de maos a abanar!

Ao descer a taxa de juro, o Fed procura travar a descida do preco das casa, principal fonte de riqueza do consumidor americano, e dessa forma nao retirar poder de compra a populacao... Sera que vai resultar?

PS1 : Vitor Constancio referiu ontem a existencia de esforcos no sentido de combater os ENORMES conflitos de interesses que as agencias de rating tem actualmente

PS2: Se o emprestimo que o Millennium bcp concedeu ao filho do Eng. Jardim Goncalves tivesse sido vendido, com aspecto de bom, ao Mercado talvez o fundador do banco nao tivesse passado pelos recentes embaracos
 
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